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sábado, 29 de dezembro de 2012

Lista de 2013




Nunca sei onde as minhas listas de final de ano vão parar. Eu até tento fazer um mapa para a vida. Policiar o rumo das minhas decisões. Mas meu coração toma as rédeas da situação e faz o que tem vontade. Não sabe ler.

Já que não tem jeito. Esse ano eu deixei que a lista de resoluções para 2013 ficasse nas mãos do meu coração. E resolvi publicá-la, para não fazer desfeita a ele.

1 – Não reclamar da chuva, do frio, do calor, do sol, ou do vento. Se molhar.
2 – Reciclar. A vida é para passar adiante. Egoísmo é medo.
3 – Dançar. Gaúcho também sabe sambar.
4 – Cantar e escrever. De dentro para fora. Não deixar nada na gaveta
5 – Terminar com a preguiça. Esse romance vive se esticando.
6 – Errar mais vezes. A tentativa da chance aos acertos.
7 – Fazer. Não existe dia certo para algo ruim. Não adianta empurrar a data para o próximo mês
8 – Rir e chorar. Tem espaço pra tudo. Não existe hora certa.
9 – Conectar-se. As pessoas são incríveis. A natureza é maravilhosa.
10 – Amar. É preciso cuidar bem do coração.

Até hoje, todas as listas de final de ano que eu escrevi terminaram com a mesma frase. É meu ponto final. A minha liberdade. Minha desculpa. Minha motivação.

11 - Seja feliz.

Felicidade é bem estar. Se ela estiver faltando. Não precisa nem terminar o ano para começar a fazer a mudança dos hábitos.

Quero terminar esse ano desejando muito amor a todos. Aos meus familiares, amigos, e leitores. Que possamos sempre ser um pouco melhores a cada nova manhã.

Obrigado a todos vocês que estiveram acompanhando minhas crônicas ao longo deste ano. Especialmente aos que já fazem isso desde a época em que escrevi o mosaico. As palavras são uma das minhas maneiras de transbordar. E sou muito feliz por poder dividir isso com vocês. Até ano que vem. Boas festas. Amor e luz para todos.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Nova Página

Arte: Abstract Blue Poppies in Sunrise, Ana Maria Edulesco


Que maravilha é o calendário. Virar a página é um alívio. É a mágica do recomeço. Precisamos das segundas feiras, dos primeiros dias do mês, e dos anos novos. Não suportamos a eternidade.

Seria tão duro aguentar o peso dos dias sem dividi-los em meses, e tão complicado suportar os meses sem poder dividi-los em anos. Assim fica mais fácil. Se não deu certo, podemos tentar de novo. Reinventar.

É a beleza de tudo que acaba. Primeiro sentimos tristeza. Saudades antecipada das coisas boas. Logo vem a decepção. Lamentamos tudo que não foi feito. Depois Erguemos a cabeça. E começamos a sonhar e reciclar sonhos. Marcamos a nova dieta. Decidimos lutar pelo amor verdadeiro, esquecer as distrações no caminho. Fazemos listas novas. Prometemos que quando o clima melhorar vamos correr todos os dias. Juramos que iremos nos dedicar aos estudos. E reabastecemos nossa força de vontade.

Essa é a graça de cada ano novo. Não deixa que a vida apenas siga em frente. Recicla.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Feliz Natal em Néon


arte: Coca Cola, 1937 advertisement 

Foi meu irmão quem me falou a verdade sobre o Papai Noel. Eu era pequeno, mas assim que ele descobriu, me contou. Fez bem, afinal, a mentira era uma das categorias que desqualificavam a criança para o presente de natal.

Eu já sabia que alguma coisa nessa história toda não cheirava bem. O bom velhinho estava em todo lugar. Nos comerciais, nos shoppings, em um carro na rua distribuindo balas, nas calçadas empurrando panfletos, e até mesmo escalando prédios diante de multidões. Quase um ex BBB tentando manter a fama.

Isso não é maneira de um cara como o Papai Noel se comportar. Ele toma coca-cola e pisca o olho para nos convidar. Anuncia a Tele-Sena e diz que é fácil ganhar. Vai à concessionária da Chevrolet e comemora a compra parcelada em 46 vezes com juros. Aposto que só não faz comercial de cigarros porque eles já foram proibidos.

Pobre do velhinho. Nasceu como uma figura gentil. E acabou virando a falta de criatividade e caráter das publicidades. Virou um grande empresário. Já fechou a própria fábrica e demitiu todos os duendes. Agora ele refina petróleo, terceiriza a construção dos presentes nas mãos das crianças da China, e ganha mais de 300% de lucro.

Talvez ele tenha ficado caduco. Quando começou com esse negócio de dar presentes, ele não era assim. Era coisa do coração. Queria escutar os sonhos das crianças. Alimentar os sorrisos. O cartão era mais importante que o presente. E a qualidade do presente não se media pelo valor. Era medida na conexão entre as pessoas.

Não culpem as crianças por isso. Todas as crianças que eu conheço gostam mais de brincar do que de brinquedos. Quem botou o preço nos presentes foi o adulto. Foi ele que etiquetou as mercadorias. E é ele quem dá valor aos nomes. Afinal, é o adulto que ensina a criança a brincar. Se quiserem culpar alguém pelo roubo do natal, culpem os adultos.

Eu sugiro algo diferente para a noite dessa véspera de natal. Escolha as pessoas que você mais ama, e faça o presente. De algo pessoal. Escreva uma carta. Faça um cartão. Abrace. De um beijo. Não de apenas o brinquedo. Brinque junto. Desligue a televisão, os especiais não valem à pena. Converse, não fofoque. Ensine que sonhos não têm etiqueta. E que para ser piloto, só precisa de cadeira e imaginação. Brinde ao calor da confraternização, não ao frio dos objetos. Se conecte. Ame.

Publica em 21/12/12 no jornal O Farroupilha

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Na Mesa



Eu não sei quem decidiu criar essa coisa de linguagem verbal. Mas eu duvido que a fala tenha nascido para alertar os perigos do cotidiano. Fazer juras de amor. Recitar poemas. A fala não se desenvolveu para aperfeiçoar brigas. Nem foi criada durante uma guerra qualquer. A fala nasceu em uma mesa, durante um almoço, um jantar, ou até em um boteco.

Não conseguimos dividir comida sem dividir histórias. A mesa é nosso fraco. Baixamos a guarda diante dos pratos. Nos curvamos nas cadeiras perante os alimentos. Os talheres que seriam armas em outras ocasiões, se transformam em aliados da paz. É um momento sagrado de conexão entre o grupo. A comida abre espaço para a compreensão.

É só prestar atenção nos costumes. A mesa está presente para abrir os assuntos mais importantes da vida. É item obrigatório em sala de reunião. Grande aliada na hora de fechar negócios.

É objeto de desejo em qualquer bar. Confidente dos bêbados. Tem gente que se engana, acha que é o garçom. Mas a mesa está sempre ali no meio. É a única que se lembra da noite inteira.

Recebemos nossas visitas na mesa. È a grande anfitriã das festas e ceias. Durante anos os arquitetos tentaram convencer as pessoas a se reunir na sala de estar. Mas nunca obtiveram sucesso. A cozinha sempre saiu vitoriosa nos números. É por isso que inventaram a cozinha americana. Para tirar o pó da sala e aumentar o espaço da conversa.

A mesa é até mesmo sinal de poder. Têm algumas tão cobiçadas, que às vezes necessitam atender a uma grande fila de reservas. São tratadas como especiais. Tem vista pro mar e um cardápio com nomes esquisitos. Mas elas nunca serão realmente diferentes da mesa do boteco da esquina, que serve todos os tipos de fritura e não faz questão das toalhas limpas. Ambas querem abrir nosso apetite pela comunicação. Nosso desejo de se conectar com outro ser humano.

Não importa o local da mesa. Não importa a qualidade da comida servida. O que importa, são as pessoas. A real função da ceia não é preencher o estomago. É preencher o coração. Nenhuma vista substitui uma ótima companhia.

Publicado no jornal O Farroupilha em 14/12/12

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Desfocado



Arte: Vision - J Andrel

Não consigo lembrar-me da infância sem visualizar um par de óculos no meu rosto. Era meu companheiro. Meu tradutor. Sem ele, o mundo ficava distante. Indecifrável. Um sorriso era igual a uma lágrima. Uma bola era uma mancha branca borrada. E a televisão era arte abstrata moderna capaz de emitir sons. Eu vivia em dois mundos, e os óculos eram a minha ponte entre eles.

Eu era muito pequeno quando comecei a usar óculos. Tão pequeno, que a armação, que era mais da metade do meu rosto, era alvo do olhar penoso dos mais velhos. Eles achavam os dois fundos de garrafa que aprimoravam minha visão, um fardo muito grande para uma criança tão pequena carregar. Eu não me importava. Foi fácil botar os óculos na minha vida. Não bati pé. Nem fiz manha. Meu problema de visão sempre foi maior que a minha vaidade.

Usava as cordinhas na armação para ter certeza de que não os perderia. E quando eu os tirava, tentava memorizar o local exato de onde os havia deixado. Eu tinha que ficar esperto. A minha mistura de miopia com astigmatismo gostava de me confundir. Primeiro ela escondia os objetos pela casa, e as pessoas pela rua. Depois ria da minha cara quando eu passava um bom tempo procurando o que ela havia escondido logo na minha frente. Sempre me enganou. Mas, apesar de tudo. Nós nunca fomos inimigos.

Crescer com os óculos no rosto e um grande problema de visão nos olhos, me deixou desfocado do mundo. As lentes de vidro até foram capazes de me situar. Me aproximar do cotidiano de quem enxerga sem ajuda. Mas elas são muito seletivas. Focam apenas no centro, enquanto os olhos transformam o resto em um borrão distorcido.

É por isso que eu mergulhava nos livros. Eu podia enxergar o mundo das palavras como eu quisesse. Ninguém podia me dizer o que era certo ou errado na textura das paisagens, e nos traços dos personagens. Se no mundo real eu precisava usar minha imaginação para dar detalhes aos borrões, no mundo dos livros isso era uma obrigação.

Meu problema de visão me fez ter o desapego a estética material. Não dava importância para as imagens. Até hoje eu não sou capaz de decorar os formatos dos carros. Para mim, todos os carros têm um único nome. A diferença além do conforto, é que alguns gastam mais combustível do que os outros.

Eu até podia estar ali. Viver, tocar, e caminhar no mundo como qualquer pessoa. Mas meus olhos estavam sempre voltados para dentro. Focados nos meus pensamentos. Bolando teorias. Criando letras de música. Imaginando cenas. Não havia nenhuma distração com as grandes belezas do mundo. Os óculos me fizeram introspectivo, mesmo eu sendo uma pessoa extrovertida.

Aos 14 anos, ganhei minhas primeiras lentes de contato. Foi como ser sugado para o mundo real. Nunca esqueço a sensação. Me senti parte do grupo. Conectado com a distância. Me lembro de olhar para o horizonte pela primeira vez de verdade, e me perguntar se as pessoas entendiam a beleza daquilo tudo.

Tive que re-acostumar os meus olhos. Eles estavam tão viciados no chão, que ao enxergarem tantos detalhes de uma só vez, me deixaram tonto. Eu estava em êxtase. Aquele dia mudou meu mundo, eu troquei o desinteresse pela paixão. Conectei o meu interior com o exterior. E comecei a mergulhar nas texturas do mundo.

Ver. É inexplicável. É lindo. Os detalhes do tempo nos rostos e nas mãos. As linhas do horizonte. As estrelas em noite de céu limpo. O olhar que não necessita nem de palavras pra se comunicar. As árvores e o concreto. As pichações que assinam os muros. E até mesmo o lixo. Tudo vale a pena pela visão do mundo.

È claro que as lentes de contato não são iguais a uma visão perfeita. Elas secam, se deslocam, irritam, perdem o foco, e precisam ser guardadas a noite. Não vou negar que eu gostaria de não precisar das lentes para enxergar o mundo com qualidade. E que eu adoraria ver a lua pela janela quando acordo a noite. Mas sou muito agradecido a vida. Ela me deu o problema, e eu consegui entender o valor da beleza.

Eu ainda não associo o nome aos carros. Existem coisas mais bonitas para a visão decorar

Crônica publicada no jornal Visão do Vale em 11/12/12

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Dezembro


Arte: Four Seasons - Luiza Vizoli

Então é natal. Não tem mais desculpa. As lojas já deixaram de estar antecipadas com as suas decorações. A televisão já anuncia com data marcada os especiais de final de ano. As casas já brilham e piscam a noite toda. E o cinema já está dominado pelos filmes cheios de neve. Não tem mais como empurrar, o papai Noel já foi chamado.

O último mês do ano é quase um julgamento da inquisição. Entramos em debate com nossa consciência. Fazemos listas para medir nossa competência. Somamos os segundos do ano para verificar se eles foram bem utilizados durante a nossa vida.

Ninguém escapa do julgamento. Quando somos crianças, já nos avisam: O velinho sabe de tudo, quem não foi bom durante o ano, não ganha presente.

Dezembro é uma rocha nas nossas cabeças. Nos tornamos filósofos da nossa história. Nosso mundo vira uma única pergunta com o objetivo de cutucar nossa insatisfação.

Onde foram parar os últimos onze meses?

Os meus não desapareçam. Estão aqui, atrás dos olhos. Embaixo da pele. Dentro da minha cabeça e da minha barriga. Nas linhas das mãos, e nos traços do rosto.

Nos últimos onze meses eu me somei junto com todas as palavras que escrevi e com todas as conversas que tive. Junto com os treze livros que li.  Com toda poesia que vivi. Com os braços que me envolveram, e com as pessoas que deixei meus braços envolverem.

Ensinei e aprendi. Ajudei, e fui ajudado. Me mudei e mudei a mim mesmo. Vi diversos pores-do-sol. Tomei vários banhos de chuva (alguns intencionais). Caminhei muitos quilômetros. Cantei. Dancei. Tropecei. Bati algumas vezes o dedinho do pé. Chutei calçada. Queimei a língua. Quase me afoguei (duas vezes). Não comi carne. Comemorei os pequenos sucessos. Me revoltei nos pequenos fracassos. Chorei. Dei risada. Corri atrás dos meus sonhos. E respirei.

Não existe aparelho capaz de medir o sucesso de um ano. Nada pode entregar dados exatos, com provas numéricas. Talvez a única maneira de se medir o sucesso da vida, é a felicidade.

Felicidade nunca mente. Entrega o resultado positivo dos últimos 11 meses sempre com um grande sorriso.

Publicado no jornal O Farroupilha em 7 de dezembro de 2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Evolução



É tudo culpa do amor. É ele o óleo que mantém as engrenagens da humanidade girando. É o chute inicial da tecnologia. É o tiro que da a largada da corrida pela perfeição. O amor é a música que embala a festa do mundo, e todo mundo quer achar o seu par para a dança.

Pode ser rico ou pobre. Alto ou baixo. Magro ou gordo. Heterossexual ou homossexual. Não existe classificação. Todos querem alguém para poder contar como foi seu dia ao chegar em casa. Alguém para dividir segredos em noites quentes ao ar livre, e trocar sorrisos depois das piadas sem graça. Alguém para conversar em olhares, e poder brigar quando o outro não conseguir entender. Todos querem achar a sua metade, encher o coração até a borda.

Foi o amor que tirou o primeiro homem de cima da árvore. Não foi a sobrevivência. Ele provavelmente estava à procura de um lugar melhor para sua amada viver, longe da chuva, e perto do chão. A paixão é assim, quando toma conta do corpo, faz qualquer um se entregar as loucuras. Foi o amor que dominou o fogo. Somente um ser apaixonado é capaz de tentar conter algo tão incontrolável.

A sociedade não deixou de ser nômade pelo comodismo. As mulheres estavam com ciúmes. Tinham tanto medo que seus amores tivessem chance de conhecer alguém durante as longas e demoradas viagens de caça, que decidiram cultivar os alimentos no quintal de casa. Para poder colher o amor de seus homens todo o dia.

Gengis Khan queria conquistar o mundo para tentar encher o próprio coração que ninguém conseguia conquistar. Cristóvão Colombo decidiu atravessar o mar para ver se tinha mais sorte nos romances do outro lado. Leonardo da Vinci tentou ganhar o coração da Monalisa com sua pintura, e ela nem se quer se achou parecida. Galileu Galilei olhava para o céu noite e dia tentando achar a melhor combinação para seu signo. Santos Dumont queria saber se a sensação de voar era igual a sensação de estar apaixonado. Einstein formulou a teoria da relatividade ao perceber que o tempo flui diferente perto de quem se ama. Antonio Meucci inventou o telefone para poder falar com sua amada dentro da própria casa, e Thomas Edison aperfeiçoou para tentar diminuir os efeitos da saudade. Neil Armstrong já tinha sido levado pelo amor três vezes para o mundo da lua antes que ele pudesse deixar uma pegada por lá.

Existem teorias que defendem a guerra como a dona dos moldes da humanidade. A grande responsável pelo desenvolvimento tecnológico e social do mundo. Eu sou de idéia oposta. Aposto minhas fichas no amor, ou na falta dele. Quem tem carência de amor, faz de tudo para chamar atenção. Sonha com o poder para tentar conquistar o amor. Quer virar um ídolo, uma obrigação no coração dos outros. A falta do amor faz o ser vivo fazer mais loucuras do que quando ele é consumido em grandes quantidades.

Até podemos fingir que não precisamos de ninguém. Contar pra todo mundo que é bom ser independente, e que não precisa de outra pessoa para ser feliz no amor. E podemos até nos convencer de que isso é realmente verdade. Mas nossa história sempre acaba escrita pela caligrafia do coração.

Não conseguimos evitar, só paramos de procurar quando encontramos. O coração só fica satisfeito quando está cheio. Nossos planos de vida, nossas obsessões, nossos desejos. São todas as nossas linhas traçadas para encontrar alguém que esteja caminhando pelas mesmas regiões no mapa da vida.

Quando encontramos alguém, e essa pessoa também nos encontra. É uma festa, todos os clichês fazem sentido. Parece que os batimentos cardíacos se conectam. Que é magnetismo cósmico. Destino que foi escrito nas estrelas. Comédia romântica de Hollywood. Toda a vida se resume a um ponto, e tudo ganha sentido.

Mas quando a festa acaba. Tudo desaba, a paixão que mantinha o corpo no ar desaparece. As estrelas se transformam em videntes charlatões. Os corações perdem os compassos. Os pólos se invertem e se afastam. A comédia romântica vira drama. E a vida perde o sentido.

Se não houvesse o amor, o coração nunca cairia no chão, mas também não levantaria. Nem antes, e nem depois de cair.

Cronica publicada no dia 27/11/12 no jornal Visão do Vale

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Tipo Sanguíneo


Arte: Helen R Klebesadel, Sacred Spiral.

Não posso doar sangue. Até tentei. Nem o medo da dor da agulha, nem o engarrafamento, e nem o tempo ruim me fizeram desviar o caminho até o hemocentro. Dediquei minha manhã toda para a ida, e todo meu dia anterior para a preparação do organismo.

Respondi os dados da ficha de aptidão com um sorriso no rosto. Quase certo do meu gabarito. Entrei na sala do teste oral com confiança. Com o peso certo. Bem dormido. Mal alimentado da manhã, eu admito, mas essa não era uma informação que precisava vazar à examinadora.

Já estava preparado para a próxima etapa quando descobri um muro entre meu sangue e a seringa. Meus glóbulos vermelhos provavelmente encheriam de vida as veias de outra pessoa. Mas meus glóbulos brancos iriam começar uma guerra contra a tireoide dela. É coisa da genética. Uma tal de tireoidite de Hashimoto.

Somos os chefes do nosso corpo. Mas não temos o controle sobre todos os setores dele. Não posso dizer para meu sangue e minha tireóide pararem de brigar. Esta fora da minha jurisdição. Até entendo, cuidar de todo trabalho pode deixar qualquer um louco. Por isso nosso organismo já vem preparado para fazer o que acha certo.

Me senti como a natureza. Dona da vida e presidente do mundo. Gigante e imponente. Mas impotente para formular as decisões dos vivos. Consegue manter todas as engrenagens do universo funcionando em uma linda harmonia. Mas não tem poder para avisar ao pessoal da faixa de gaza que eles não precisam brigar, Não conseguiu dizer ao homem que escravizar outras vidas é errado. Nem pode convencer a humanidade a parar de se fantasiar de superior.

Pobre natureza. Se fosse tentar doar sangue no hemocentro do universo. Ia descobrir que os glóbulos brancos dela, ao invés de usar toda inteligência que possuem para protegê-la, decidiram atacar os rios, a terra, o ar, e todo ecossistema que ela mantém em funcionamento para que eles possam estar vivos.

Publicado no jornal O Farroupilha em 23/11/2012

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Confissão de Músico


Arte: Virgil Stephens - Fly Me To The Moon

Não escolhi ser artista. Não é tipo de coisa que se escolhe. Acontece. Não sei se é algum dos caminhos prontos no mapa da genética, ou se é parte de alguma grande obra na arquitetura do universo. Não gosto de questionar as origens dos desejos. Aceitei o fato e assumi para o mundo. Sou músico.

Os sinais da arte foram aparecendo aos poucos na minha vida. Começaram com o desejo das mãos de transformar qualquer barulho em percussão, e a vontade dos pés de andar sempre junto ao ritmo. Se manifestaram nas leituras de livros, compulsivas até mesmo nos dias de sol, e na inexplicável vontade de escrever os meus romances. Sempre quis traduzir o mundo com as minhas próprias palavras.

A vontade de subir ao palco começou cedo. Eu não suportava a indiferença dos adultos, sempre concentrados na televisão. Eu queria fazer arte ao vivo. Empurrava a cadeira para frente da televisão e a transformava em palco, fazia da sala o meu teatro. Eu atuava filmes. Cantava músicas. Declamava comerciais. Era a atração principal da noite até que a programação da hora recomeçasse para roubar a minha cena.

Quando isso acontecia, eu abandonava o palco, e ia desenhar. O papel e a caneta sempre foram dois dos meus grandes amigos. Posso me divertir por horas toda vez que nos encontramos juntos.

A arte é maravilhosa. Tem o poder de redesenhar o mundo. Ligar os pontos perdidos. Destacar os traços nos muros e sublinhar partes da natureza. Sempre adorei transformar a vida numa pintura. Eu até ficava satisfeito em guardar a arte final só para mim. Reservar a minha interpretação da vida. Mas expor o quadro, e mostrar para quem quiser ver, é o verdadeiro sentido de pintar o mundo.

Artista não consegue segurar as coisas dentro do peito. Quando o coração transborda, nasce a arte. Os sons, as imagens, e as palavras são os vazamentos do coração. As molduras para os sentimentos. São fugas.

Cada artista usa as ferramentas que mais gosta para construir os túneis que aliviam a pressão no coração. A minha acabou sendo a união da música e das palavras. Não são artes que necessitam uma da outra para existir. Mas eu adoro essa mistura. Criar a trilha sonora para a escrita, e traduzir os sons em letras

A música sempre me envolveu. Ela me fascina. Ela é tão pequena. Guardada entre um dó e outro. E mesmo assim, é infinita. Está toda dentro da prisão dos instrumentos. É só transformar os dedos em chaves, e abrir as celas das notas para que a música se faça.

Meu primeiro romance com o violão não deu certo. Eu quis apressar as coisas, e na falta da coordenação motora da infância, derrubei ele no chão. Ele ficou com o braço partido, e eu com o coração. Mas a vida deu um jeito de nos reapresentar. Eu o procurei anos mais tarde, e ele me recebeu de braços abertos. Somos grandes amigos e ótimos parceiros de composição até hoje.

Foi ele quem me ajudou a musicar minhas letras escritas na infância. Que me ajudou a achar a diversão nos dias monótonos. Que me consolou nos romances. Que me fez acalmar os ânimos. Que escutou os meus lamentos da adolescência. Que traduziu minha alegria. Que revelou meus segredos. Que continua comigo mesmo eu nunca dividindo o cachê com ele.

Eu até tentei me desviar. Pensei em estudar medicina. Quem sabe ser professor, ou até bioquímico. Qualquer coisa que me afastasse da arte. Mas não consegui, sempre foi mais forte que eu. E um dia precisei assumir para os meus pais.

Nunca é fácil. Poucos pais querem ouvir estas palavras de um filho. Afinal, por que a musica? Por que não escolher uma opção que já vem pronta? Uma opção lapidada em uma faculdade, passada de geração para geração. Fazer engenharia, ou medicina. Ser padeiro, ou arquiteto. Trabalhar em horas normais. Ter um chefe. Alguém que grite com você. E alguém para passar adiante o grito.

Eu entendo a preocupação. Todo mundo sabe que ter o próprio coração como chefe, é muita exigência no trabalho. Mas acabei tendo sorte. Meus pais me compreenderam e decidiram me apoiar na decisão. Hoje sou um músico feliz, sem medo de assumir a música na minha vida.

Publicado no jornal Visão do Vale em 20/11/2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Desamor


Arte: Desamor - Adela  Casado

O amor não foge discretamente. Não consegue sair de fininho pela porta dos fundos e fingir que nunca esteve ali. Amor não sabe andar nas pontas dos pés. É atrapalhado, sempre quebra os vasos e derruba panelas antes de chegar à saída. Liga a luz sem querer, e acorda quem está no quarto para avisar que está indo embora.

Não existe vitória quando o jogo do amor acabada. Todo mundo perde. Todo mundo vira culpado. Não tem como fugir da pena. Pelo menos algum tempo em carcerário na cela dos sentimentos por outra pessoa ainda será necessário para voltar à liberdade.

Quem perde o amor primeiro, sofre por antecedência, sente saudades do que não vai mais ter. Culpa o próprio coração por não amar mais o outro. Faz de tudo para que o amor não desapareça. Busca por ele na memória. Tenta encontrar traços dele nos sorrisos da outra pessoa. Tenta se reinventar.

É como ir a um ótimo restaurante. E no meio da refeição, perder a fome. Pedir para ir embora enquanto o outro ainda está saboreando a comida.

Quem descobre que o amor da outra metade fugiu. Luta contra as forças da natureza para se manter no chão. Levanta suspeita. Leva o acusado ao tribunal, e não espera a sentença do juiz. Joga tudo na mesa. Precisa encontrar a saída sem ter chego ao final.

Não existe apagador. Quando o amor vai embora. Esquece de levar as lembranças. Deixa as fotos espalhadas nos porta-retratos. As palavras escritas nos cartões. Os perfumes fixados nas roupas. Os passeios de domingo na memória. E a intimidade marcada numa mancha invisível em cada lugar que ela já tocou.

Todo mundo sofre. Quem precisa esquecer, e quem não quer esquecer. Quem se preocupa e quem finge que não se preocupa. Quem é vilão, e quem é mocinho.

Perder o amor é pior do que perder carteira de identidade. A burocracia para conseguir um novo é complicada e lenta. Precisa de tempo. Paciência. E lágrimas. Mas assim como a chance de conseguir um foto 3x4 melhor que a anterior, é uma boa chance para sentir a alegria da paixão novamente.

Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 16/11/12

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Mudança


Vista aérea do morro Dois Irmão e Pedra da Gávea no Rio de Janeiro - Wendell Well

Esvaziar armários e encher caixas não é tarefa fácil para o coração. É uma renuncia forçada de toda história que deixamos acumulada junto com o pó dentro das nossas gavetas. Escolher quais dos pequenos tesouros devem continuar na família de tralhas e entulhos é um grande exercício para o desapego. É como transformar o passado em duas pilhas, uma para levar ao futuro, e outra para enviar para qualquer direção oposta.

Me lembro da minha primeira mudança. Era ainda muito criança para querer separar minhas preciosas tralhas, queria levar as gavetas inteiras para a nova casa. Mudar o mesmo quarto para um novo endereço. Minha maior preocupação era na verdade com os amigos. Quando somos crianças, somos obrigados a ter amigos que façam parte da nossa rotina. E eu tinha a tristeza de saber que os metros que uniam os laços de amizade entre eu e os meus amigos do bairro iriam se alargar e afrouxar junto com a distância que separaria nossas casas. Mas também sabia que o novo endereço era um ótimo pretexto para conhecer novos candidatos ao posto.

Talvez seja por isso que sempre me animei com as mudanças. Espero o novo como a fome espera a janta. Sou otimista. Gosto da sensação de desconforto da novidade. Gosto de descobrir. Tirar as peças de roupa para encontrar a pele. Me impressionar com cada pinta e mancha que eu ainda não conhecia.

A mudança é sempre uma chance de abrir novos espaços no coração. Esvaziar os armários, é permitir que novas vidas possam ganhar valor. Minha ultima mudança começou há alguns meses. Já não era mais criança e precisei limpar todas as minhas gavetas. Separei os meus tesouros. Reciclei o passado. Joguei fora o que não seria útil para ninguém, doei o que poderia encher as gavetas de alguém, e segurei tudo que eu ainda sei dar utilidade.

Dessa vez, não botei nada dentro de caixas. Não empacotei com plástico-bolha nenhum objeto. E nem me preocupei com os amigos, já aprendi que existe amizade que nem a distância afasta. Me resumi em apenas uma mala e um violão. Queria poder trazer mais, e fiquei feliz ao saber que o coração comporta muito mais do que os 23 quilos de bagagem permitidos pelo avião.

Depois de um bom tempo me mudando para quartos provisórios, finalmente estou deitado no meu colchão, no chão da sala do meu novo lar. Tenho o morro Dois Irmãos de pé do outro lado da janela, e as orlas do Leblon e de Ipanema deitadas lá em baixo, na beira do mar, tomando banho de sol e enfeitando o infinito de água salgada. Morava no alto da serra gaúcha, agora moro no alto do morro do Vidigal. Coincidência que provavelmente meu subconsciente fez força para acontecer.

Me sinto como quando era criança, na primeira mudança. O colchão no chão e a casa vazia. Esperando para ser preenchida com uma vida nova. Os interruptores me fazendo de bobo, trocando toda hora as próprias conexões elétricas só para me ver errar. A caixa térmica brincando de refrigerador, e a torradeira fingindo ser fogão. Toda mudança é igual. A casa nunca está pronta no momento em que você entra nela. É preciso encher com o presente, e acumular novas histórias.

Fico imaginando a intimidade que os antigos moradores tinham com as paredes e o piso. Qual será a soma de dedinhos do pé que já se chocaram nos cantos das portas desde o primeiro morador? Quantas brigas já começaram e já terminaram dentro dessas paredes? Quantos casos de amor aconteceram em baixo desse teto? Será que alguém deu os primeiros passos aqui? Quem escolheu a poesia que está escrita na parede?

Mesmo que pudessem, as paredes não contariam. Não por serem leais aos antigos moradores. Mas por serem leais aos novos. Somos nós que fazemos o lar, não é o lar que nos faz.

É como conhecer alguém novo. Nunca saberemos quantas vezes um sorriso apareceu nos lábios dessa pessoa, nem quantas lágrimas ela já derramou. Por mais que a nossa curiosidade insista no passado. As gavetas já foram limpas, já serviram para moldar o presente. E se somos o presente. É nossa função encher o coração de novas lembranças.

Crônica publicada no jornal Visão do Vale em 13/11/2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Samba


 Maneco Araújo - Favela da Rocinha

Não existem barreiras para quem sabe gingar.

Quem tem molejo nos pés não perde o charme nem quando tropeça. Transforma o esbarro em passo de dança. Faz do choro um riso. E do riso uma alegria.

As paredes descascadas e sujas da cidade são molduras aos olhos de quem tem o suingue nas mãos. Os muros de concreto, os pilares dos viadutos, qualquer coisa que pareça transformar a vida em uma caixa de tijolos ganha cores e vida no grafite dos dançarinos da vida moderna.

Se o mundo canta, damos um jeito de inventar uma dança. É a resposta da vida.

Tente tocar uma música para alguém. Se essa pessoa não mexer nem ao menos um dedo da mão no ritmo. É porque toda a concentração dela esta sendo dedicada a ignorar a própria vontade. Dançar é involuntário, é o nosso corpo tentando traduzir o coração.

Se os preços no mercado aumentam, rebolamos. Refazemos as contas, chamamos os números para a pista, e giramos com eles de um lado para o outro. Treinamos os passos para que fiquem confortáveis novamente.

O problema é quando a música muda antes que todos os bailarinos aprendam a coreografia. Aí a dança é diferente. Vira improviso. Vira casa no meio do morro. Vira conjugado e sobradinho. Vira esgoto a céu aberto e lixo espalhado na esquina. Vira gato de luz no poste e ladeira no quintal de casa.

Se dançar é involuntário. Talvez o problema esteja na banda. Afinal, ninguém consegue dançar essa música sem ritmo que insistem em tocar. Essa música que entre um compasso e outro, os maestros acrescentam um tempo a mais para receber a propina dos músicos.

Ainda bem que o público é bom de gingado. Consegue dar um jeito de se manter na pista de dança. O que me surpreende na verdade, é que quem assiste ao show sentado no mezanino, reclama mais da dança confusa do povo, do que da música mal tocada da banda.

Crônica publicada no jornal O Farroupilha em 9 de novembro de 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Epitáfio


Dia de los muertos - Thaneeya McArdle

A morte é séria de mais. Basta ela entrar no assunto, que todo mundo fecha a cara.

Não existe espaço para a felicidade perto da cova. Qualquer traço dela é condenado quando a palavra morte aparece na receita da vida. Não importa se ela vem dos bons momentos que a vida deu, dar risada em um velório é quase um crime. Ofende as lágrimas de quem prevê um futuro sem a vida de quem já viveu.

Não gosto dessa cordialidade toda. O terno e gravata do enterro deveriam ser substituídos por um nariz de palhaço. A morte nunca deveria ter sido levada tão a sério. Não entendo como ela acabou sendo mais respeitada que a vida.

Transformamos a vida em comum e a morte em sagrada. Botamos a morte em um pilar, e jogamos a vida numa vala. Maltratamos a vida e cuidamos com todo carinho da morte.

A morte virou nossa maior obsessão. Comemos errado e com exagero, para tentar entupir artérias. Enchemos nosso corpo com tóxicos para confundir o cérebro. Trabalhos mais do que descansamos, para conseguir dar às pessoas um testamento maior do que a nossa memória. Usamos motores e máquinas, para evitar que nosso corpo se canse antes do tempo. Nos preocupamos sem limites, e amamos com receio.

Começamos uma guerra contra o tempo e a natureza para fugir da morte, e acabamos nos tornando os maiores aliados dela. Somos nosso próprio arqui-inimigo. Afinal, já que nós conseguimos subir ao topo da cadeia alimentar, é nosso dever perante a natureza, dar um jeito em nós mesmos.

Não estou fazendo pouco da morte. Sei que saudades é coisa séria. Mas a saudades só existe por causa da vida.

É como se suicidar para ver se alguém vai chorar no nosso velório, em vez de amar para ver se alguém vai comemorar junto nas nossas conquistas.

Em algum momento da história da humanidade, morrer virou mais nobre do que viver.

O epitáfio deveria zombar dos nossos defeitos, em vez de engrandecer nossas vaidades.

Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 01/11/2012

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Curriculum Vitae


Evolution of Man With Umbrella, Uri Dushy, 2005

Já descobri que o fogo queima. E que o que eu encontro no chão não deve ser botado na boca. Aprendi que tem que olhar para os dois lados antes de atravessar a rua. Que tênis apertado machuca o pé. E a não nadar durante a digestão. Aprendi que cabelo molhado não combina com vento, mas que na praia isso vira exceção.

Já aprendi a ler e escrever.

Já aprendi a caminhar, e já pisei em chiclete derretido. Já aprendi as operações de matemática, e já recebi o troco errado. Já aprendi as leis de Newton, e já testei as leis de Newton. Já aprendi da onde vem os bebes, e já aprendi como se fazem bebes.

Já ganhei medalhas. Já ganhei pontos em machucados. Já quebrei o nariz. Já quebrei o dente. Já me esqueci de um compromisso. Já tirei nota vermelha. Já me esqueci de tirar toda roupa antes de tomar banho. Já entrei no banho de óculos. Já descobri que nem todo relógio a prova de água é realmente a prova de água. Já encontrei um real no chão
Já escondi um objeto quebrado. Já parti um coração.

Já quebrei um violão, e já concertei o violão. Já perdi uma lente de contato, e já encontrei a lente de contato. Já descobri que ninguém sabe nada sobre o amor, e já ignorei que todo mundo sabe tudo sobre o amor. Já entendi o não escondido no sim, e já entendi o sim escondido no não. Já formulei teorias pra acabar com os problemas do mundo, e já aprendi a dançar. Já me apaixonei, e já me re-apaixonei. Já passei a noite em claro conversando, e já dormi no meio de uma conversa. Já fiz amigos. Já perdi amigos. Já falei a coisa certa na hora errada. Já falei a coisa errada na hora certa

Já ri. Já chorei. Já senti agonia. Já senti saudades. Já amei. Já senti dor. Já senti alívio. Já senti prazer.

Hoje faz 23 anos desde que aprendi a respirar, e já aprendi que não sei quase nada.

Publicado no jornal O Farroupilha no dia 26/10/2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sem Título


Untitled II - Fabian Perez

Sempre me demoro nos títulos. Acho muito complicado resumir as idéias em tão poucas palavras. É como etiquetar um produto. Estragar a surpresa. Botar um ponto cardeal no texto para o leitor tomar um rumo para a própria interpretação.

Mas a verdade é que nos tornamos relaxados, preguiçosos. Viciados na melhor publicidade. Acostumados a comprar em letras garrafais. Nos tornamos consumidores da foto do fast food, e não da receita. Procuramos primeiro o título para julgar se o produto vale à pena ou não.

Botamos títulos até mesmo nas pessoas. Transformamos eles nas nossas identidades. São os crachás que nos separam nas diferentes estantes do mundo. Catalogados em sessões de profissão, nacionalidade, classe social, religião, raça e estilo.

Essa insistência no rótulo não vem do berço. Ela cresce junto com os aniversários e vai engrossando ao mesmo tempo que a voz. Nascemos livres, mas o mundo sempre pede o nome das nossas ideias.

Os professores nos ajudam a ficar assim. Começam a matéria nova pelo nome, e ainda pedem para sublinhá-lo no topo da explicação. Na redação, eles descontam nota dos alunos que esquecem do título. Quando é de vestibular, o aluno pode até ficar de fora do listão por causa disso.

Se fosse eu, daria ponto extra. Quem esquece o título tem sede de saber mais. É curioso. Não aprendeu a pintar dentro das linhas. Não faz cara feia antes de provar, quer saber os ingredientes.

Quem esquece o título não julga pela cara, cor, classe social, aparência, estilo, ou profissão. Não compra o amor em outdoors, nem se relaciona entre grifes.

Só quem esquece o título tem o coração aberto para amar por fora dos limites.


Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 19/10/2012

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Gente Grande


Nagbibinata means a boy growing up - Toti Cerda

Eu comecei a envelhecer cedo. O tempo nunca me deixou escolha, eu precisei aprender a respirar. E de lá para cá, nunca parei de somar segundos.

Mal sábia engatinhar e tive que balancear o peso da vida em cima dos pés. Assumir a responsabilidade de carregar a mim mesmo nos meus passos pela sala.

Em pouco tempo tinha transformado os resmungos em palavras. As palavras em perguntas. E as perguntas em respostas. Queria saber de onde vinham os bebês. Entender as conversas dos adultos e poder rir junto com as piadas deles.

Eu abandonei o bico, e decidi que não iria mais comer sopa. Queria morder e mastigar. Eu precisava testar meus dentes novos. Comer comida de gente grande.

Troquei as fraldas pela cueca. Aprendi a usar o vaso. Comecei a ler e escrever. Aprendi a jogar vídeo game. E descobri que o Papai Noel era outra pessoa que nem barba tinha.  

O tempo foi passando, e quando eu vi, já estava medindo mais que a minha avó. Ela sempre foi a régua na família que media o crescimento dos netos. Passar dela em altura era a nossa conquista. A prova de que já éramos grandes. Mesmo sendo pequenos.

Eu queria ser grande. Queria ficar acordado no sofá com a família e não perder o melhor da conversa. Queria decidir a hora de sair. Queria dirigir e ir para todos os lugares que as pessoas grandes podiam ir.

Eu fazia planos para a minha futura altura. Criava motivos para atingir a maturidade. Sonhava com o dia em que eu fosse levado a sério do jeito que só um adulto com cara séria consegue ser.

Agora tenho pêlos, barba, responsabilidades e contas pra pagar. E sou muito feliz de ser gente grande. Não porque posso dormir a hora que quiser. Mas porque sou feliz de ser o cara grande que a criança pequena queria ser.

Ainda sonho. Ainda faço arte. Ainda tenho o mesmo sorriso maroto e ainda dou risada assistindo desenhos animados.

Se aquele menino que queria salvar o mundo me visse hoje, ele ia ficar feliz de saber que ainda não desisti de tentar.

Feliz dia das crianças para todos os pequenos.  E não se esqueçam de vocês mesmos quando virarem gente grande. 

Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 11/10/2012

sábado, 6 de outubro de 2012

Na pressão

Siesmic Stress - Steven Holder


Estresse não é moda. É estilo de vida. É a saudade que o ser humano sente da vida selvagem. O vício pela adrenalina. A vontade de superar os obstáculos que a rotina enterrou.

O despertador pode até funcionar na hora marcada, mas a manhã não teria graça sem os 15 minutos extras de sono que transformam o banho quente em ducha fria, e o café da manhã nutritivo em café preto sem açúcar. É a preparação que a mente necessita para deixar claro que o conforto ainda tem traços da selva.

Sair para trabalhar é quase uma caçada, O transito é uma corrida pela própria vida, e o trabalho é o predador. Quem ficar para trás é devorado quando chegar.

Estamos sempre deixando para o último minuto. Não é preguiça. Preguiça é fazer logo só para depois relaxar. Gostamos mesmo é de acumular serviço. Gostamos de ver os trabalhos se empilharem, e de como eles são mais eficientes do que cafeína para evitar o sono. Especialmente quando estão perto dos prazos finais. Gostamos da pressão.

Estresse é carência. É usar o telefone celular no meio da rua para dizer que não tem tempo para conversar. É subir num avião, fazer mais de mil quilômetros em 2 horas, e reclamar do atraso de 10 minutos na hora de embarcar. É contar os minutos para sair do trabalho, chegar em casa e reclamar do dia. É contar as horas para sair de casa, chegar ao trabalho e reclamar da família.

O estressado não quer dividir soluções. Quer somar problemas. E quer que outras pessoas sejam solidárias ao seu estresse. O estressado não faz ideia do seu próprio tamanho perante o universo.

Estresse é egocentrismo. É a vontade de parecer importante ao transformar o cotidiano em problema. Estresse é doença sim. Mas provavelmente, a maior causa do estresse não seja o dia a dia, mas na verdade, a falta de um bom abraço apertado.


Cronica publicada no jornal O Farroupilha no dia 05/10/12

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Prazo de Validade


Sempre procuro a data que anuncia o fim da validade nos produtos do supermercado antes de comprá-los. Desconfio dos pacotes gigantes com preços baratos. Duvido da minha capacidade para consumi-los dentro do prazo. É mania de consumidor, querer ter tempo para aproveitar o produto, ter ele estocado para a ocasião correta.

Afinal, é a lei. Aquilo que tem data de fabricação precisa de uma data de vencimento. Não depende de fiscalização. É uma obrigação da natureza que o tempo sempre faz cumprir.

Tudo é perecível, passageiro. Uma hora as coisas precisam se modificar e se transformar em algo novo. O leite vai coalhar. As frutas vão apodrecer. O dia vai acabar. O medo vai passar. A paixão vai esfriar. E o coração vai parar de bater. É a vida.

O prazo de validade é nosso limite. O chão do nosso vôo livre. É o motivo que transforma a vida em raridade. Se ela fosse eterna, não teria graça. A eternidade cobra certezas que a vida não precisa ter. E o prazo de validade nos permite errar. Nos permite se apaixonar e ter o coração partido. Nos permite queimar a língua por não conseguir esperar a comida esfriar. Nos permite sofrer por antecedência e se emocionar com a surpresa. Nos permite sentir. E nos permite tentar.

Viver é começar e terminar diversas vezes antes que o prazo de validade da vida expire.

Vida não é um produto. Não existe carimbo com a data de validade marcada na tampa Nem bula dentro da caixa para verificar as informações importantes. Vida não entra em promoção de supermercado quando está perto do final. E nem pode ser estocada para datas especiais.

Mas se a vida tivesse rotulo. Teria as seguintes informações no local do prazo de validade: Consumir este produto dentro do prazo; e para melhor conservação, manter em lugares abertos.

Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 28 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Inciante


Tento ser ignorante pelo menos uma vez por dia. Experiência de mais tira a graça da vida.

Gosto dos começos, mas não sou chegado a apresentações. Me perco ao me definir. Resumir-se é como propaganda de supermercado, só anuncia as ofertas. Não conta as calorias.

Gosto de decifrar. Descobrir aos poucos, tirar uma peça de roupa de cada vez. Criar um suspense, ter a chance de me decepcionar e a chance de me apaixonar. Não gostaria de ser vidente e descobrir que não há necessidade nem de tentar.

A inocência é o coração aberto. Transforma as mais simples tarefas em rituais. Nada é mais charmoso do que as primeiras vezes. Elas ganham um espaço reservado no arquivo da memória.

Começar é se dar uma chance de medir a vida em centímetros. Explorar o tempo em segundos. Transformar cada sensação do dia a dia na primeira colherada da sobremesa, e poder terminar a refeição da vida com a sensação de estar com a barriga cheia, e com o cinto preso no buraco extra.

Ser iniciante é assumir que o mundo é maior do que si mesmo. É não ter vergonha de levantar a mão e perguntar. Não entender nada e ficar quieto é covardia. É medo de assumir os riscos da vida.

Nunca é tarde para um começo. É só atiçar a curiosidade. Não existe conhecimento suficiente para deixar uma vida monótona. Sempre existe algo a mais. Uma receita para fazer. Um lugar pra visitar. Uma pessoa para conversar. Um livro para ler. É só querer ser um bom aluno, que a vida é uma excelente professora.

Publicado no jornal O Farroupilha em 30 de agosto de 2012

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O que não cabe na mala




Arrumar as malas nunca foi meu forte. Levo sempre mais tempo do que gostaria para começar, e mais tempo do que gostaria para terminar.

Eu me perco nas roupas. Erro na quantidade. Desafio a meteorologia. Aposto nas mangas curtas no meio do inverno, e nos casacos grossos durante o verão. Nunca ganho, mesmo se minha aposta for a mesma que a da previsão do tempo.

Tirar as roupas do armário e jogar na mala sempre foi uma tarefa comum da minha vida. Mas nunca deixou de ser um ritual. É um namoro com as camisetas. Um jantar com as calças e cuecas. Um romance com os pertences.

Não sou materialista, não me leve a mal. Mas quando revisto o meu exterior, eu acabo me reencontrando com todas as histórias que fizeram o meu interior.

Se foi de presente. O rosto de quem presenteou vem fixo numa estampa invisível. O nome fica numa etiqueta que só eu consigo ver. Não consigo evitar. Os objetos me contam histórias. Me entregam mapas que indicam onde as linhas da vida de outras pessoas acabaram se cruzando e dando nós com a minha.

A mala é uma máquina do tempo. Quando está aberta, pode retroceder uma vida inteira. Mas quando fecha, é futuro.

Podemos levar roupas. Fotos. Presentes. Cartas. E até mesmo perfumes. Mas ainda não existem malas que carreguem sorrisos. Nem sacolas capazes empacotar abraços, ou mochilas que suportem lágrimas.

Ainda bem que o coração foi inventado. Coração não tem fundo. Cabe tudo que importa. E quanto mais cheio, menos pesa.


Cronica publicada no jornal O Farroupilha no dia 17/08/12

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

De pai para filho


Me lembro de contar os segundos esperando que meu pai chegasse do trabalho. O freio do carro era a sirene de aviso. O tiro que dava a largada para a corrida do oi.

Nem sabia qual era o trabalho dele quando eu era criança. Achava que meu pai era o goleiro que não foi convocado para seleção. O artilheiro que abandonou a carreira depois de sofrer uma contusão. Afinal, eu nunca conseguia ganhar dele no futebol. Só quando ele me deixava, ou no vídeo game, ai eu era campeão.

A melhor hora do dia era a da novela das 21:00h. Esperava ansiosamente o momento em que o jornal acabava para ver meu pai desligar a televisão, e escolher um CD para ouvirmos música. Era meu ritual favorito. A trilha sonora da minha infância

O sofá era meu colchão, lugar de descansar os olhos. O barulho da família e o calor humano da sala eram meus soníferos. Mas sempre acordei na cama, e com os dentes escovados. Meu pai era meu dentista.

Pai é o professor da vida. Ensina o mundo para os filhos e os filhos para o mundo.

Meu pai me ensinou a ler livros e a jogar xadrez. Me levou para o cinema e para a praia. Me deu parabéns e me xingou. Me explicou as matérias da escola e tentou responder a todos meus cansativos e persistentes por quês.

É o pai que nos ensina a andar de bicicleta. Quando vê que temos equilíbrio, nos empurra o suficiente para que possamos ir sozinhos. E se uma hora a gente cai, ele sempre manda subir de novo e pedalar.

Pai é segurança. É o nosso chão firme, e a mão que nos ajuda a levantar.

Meu pai me ensinou a viver a vida sem rodinhas.


Cronica publicada no jornal O Farroupilha, no dia 10/08/2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Aos meus amigos...


Já fui herói, vilão, ladrão, e polícia. Já salvei a humanidade diversas vezes, e desarmei a bomba no último minuto. Já fui jogador de vôlei profissional em quadra de paralelepípedo. Marquei o gol da vitória aos 45 do segundo tempo na final da copa do mundo na frente de casa.

Já fui pra guerra, com bexiguinhas na mão, e com os baldes carregados. Fui atingido, mas nunca fui abandonado. Já saltei precipícios, escalei montanhas, e escapei da lava que cobria o chão da minha casa.

Já fui piloto. Quarto lugar nas 500 milhas de Indianápolis nas duas rodas da minha bicicleta. Já fui velocista. Ultimo lugar, e medalha de mulher do padre.

Já fui agente secreto, invadindo a fortaleza da vizinha para resgatar a bola perdida. Já fui bombeiro, carregando amigo machucado pra casa. Já fui carregado pra casa.

Já fui cientista, desenvolvendo granadas de kinder ovo. Já fui traficante de respostas na hora da prova. Já fui distribuidor de chicletes, e ladrão de lanches.

Já fui aventureiro, desbravador de trilhas, pára-quedista de cachoeira, e alpinista de ladeira.

Já fui milionário e mendigo. No mesmo dia. E já fui psicólogo, e paciente. Na mesma noite.

Já fui, e sou feliz.

Obrigado amigos. Pelas aventuras, problemas, e soluções.

Vocês que me fizeram realizar muitos dos meus sonhos, e que me ajudam a viver na realidade.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Felicidade



Felicidade

Felicidade é coisa simples. É abrir os olhos dia após dia, e sentir o cheiro da manhã. É trocar um bom dia com a voz rouca de sono. Felicidade é respirar.

Não precisa nem fazer oração pra Santo Antônio. É só procurar no lugar certo que ela aparece. Às vezes é envergonhada, se esconde num brilho no olhar. Às vezes é espalhafatosa, tira o ar, derruba no chão e enfeita o rosto como maquiagem.

Ser feliz é ponto de vista. É aproveitar o dia de sol. É escutar cada palavra da conversa. É tomar banho de chuva. É rir com os outros, dos outros e de si mesmo.

“Felicidade é família reunida no almoço” diz Delcyr Sachet. Uma pessoa de bem com a vida, que não esconde a idade, pelo contrário, tem orgulho de revelar que teve “77 anos de uma vida muito feliz”.

Delcyr nasceu em Vacaria, e veio morar em Farroupilha aos nove meses de idade, quando seus pais faleceram. Foi criada pelos tios, e não reclama, pelo contrário, diz que teve uma infância boa, e que seus tios foram ótimos com ela. Após sair de casa começou a trabalhar e se virar sozinha. Casou, teve filhos, e seus filhos lhe deram netos. Hoje ela é avó, e quando fala da família que tem, seus olhos brilham.

“Meu casamento foi muito bom, ele foi um ótimo marido e pai, meus filhos estão bem, e tenho netos muito queridos; ser feliz é isso”. Diz Delcyr.

Não existe receita, nem formula mágica. Não é preciso acertar a combinação dos números premiados. Não tem nada a ver com dinheiro, com quantidade, e com tamanho.
Não é sorte.

Felicidade é a felicidade dos outros. É amor.

Guardei para o fim a frase que Delcyr disse quando começamos a conversar sobre a felicidade. Simples. Direta. Verdadeira.

“A vida é muito boa”

terça-feira, 12 de junho de 2012

Paixão crônica



Essa é minha cronica publicada no dia, 8 de junho de 2012 no jornal O Farroupilha.


Paixão crônica

Dar nome aos sentimentos é quase uma consulta médica. É necessário prestar muita atenção aos sintomas para não errar no diagnóstico.

Tudo começa quando o coração dispara. Logo as palavras se atropelam. O estomago ganha vida. Os joelhos têm dificuldade de se manter fixos. E as mãos se perdem, querem tomar o lugar do cérebro, às vezes até suam para chamar ainda mais a atenção.

São os primeiros sintomas de um sentimento sério. Poucos conseguem sentir estes sinais e não desenvolver o sentimento que está surgindo.

Após as primeiras manifestações, começa a segunda fase. A perda de apetite. O olhar distante. A falta de atenção, incluindo perda de audição. A bobeira repentina. E se o paciente além de tudo, insistir em falar sempre sobre uma pessoa determinada em qualquer assunto, não tem erro. É paixão.

A paixão pode até assustar. Especialmente por chegar sempre nas horas mais inusitadas. Mas não é problema quando diagnostica aos pares. A paixão recíproca faz bem pro coração. Os apaixonados costumam ver sempre o melhor lado da vida, e sorrir das coisas mais simples.

Muitos sentimentos se juntam para desenvolver a paixão recíproca. A alegria, a felicidade, o ciúmes, e a saudades são alguns deles. Fazem dos apaixonados um só ser. As mãos se procuram. Os lábios se tocam. Passam horas falando de assuntos que mereceriam apenas alguns minutos de conversa normal. Apaixonados brigam, mas não agüentam a saudade, logo se reconciliam.

O problema é quando a paixão é singular. Pode até fazer doer o coração. Não adianta correr, nem tentar substituir por outra. Paixão só se cura com o tempo, ela precisa desaparecer aos poucos. A boa notícia é que ela vai embora geralmente sem deixar marcas.

Se todos os sintomas persistirem então não existe mais volta. Paixão crônica é amor. E quando é amor, é muito difícil curar, e se curar, ainda vão ficar seqüelas. Por que nem o tempo consegue tirar todas as manchas que o amor deixa no coração.