Não existe espaço para o preconceito no carnaval. Não
adianta tentar, ele não cabe entre os confetes e a purpurina. Não consegue se
encaixar entre a caixa e o bumbo da bateria. Ele se perde antes mesmo de virar
a esquina com o bloco.
Carnaval é democracia. É a festa da rua. Não existe área
vip. Não precisa pagar ingresso. Mas quem quiser entrar pra dança tem que
rebolar.
O médico pode ser o mendigo. O jardineiro pode ser um rei. A
empregada pode ser uma enfermeira. E o malandro pode ser o padre. Na folia não
existe hierarquia. Ninguém é melhor que ninguém.
Todo mundo segue o mesmo balanço. O suor de um é suor de
todos. O passo de um é o passo de todos. O coro é um só, e a alegria é geral.
Felicidade compartilhada.
Dizem que carnaval é coisa de vadio. Que mentira, carnaval é
coisa de família. Coisa de jovem. Coisa de mulher, de homem, de homossexual.
Carnaval é festa pra malandro sim, mas também é festa pra santo. É festa pra
quem quer soltar a voz. Pra quem quer dançar. Pra quem quer sentir o ritmo da
percussão tremer o asfalto.
É verdade. Que por alguns dias o Brasil se esquece de
reclamar da política. Que o número de acidentes aumenta. E que muitos problemas
com drogas e bebidas acontecem.
Mas o carnaval é o maior exemplo de união que eu já vi. É a
igualdade desfilando num único abraço entre foliões desconhecidos.
Num país tão desigual e tão cheio de problemas sociais. Num
país com tantos movimentos culturais diferentes e tantas etnias. É uma
maravilha ver um evento onde a diferença fica de fora, e dá lugar a alegria.
Tem que diga que o carnaval é uma vergonha para o Brasil.
Que exporta para o resto do mundo a nossa falta de pudor. Eu vejo o carnaval
como um orgulho. Exporta para todo mundo a nossa alegria e toda nossa falta de
preconceito.