Arte: Oliver Ray
Somente as crianças são sinceras. Basta olhar o álbum de
fotografias.
Criança não finge sorriso pra sair bem na foto. Não pensa em
fantasiar futuras intimidades com aquele milésimo de segundo registrado para a
eternidade.
Se ela esta triste, vai sair fazendo bico. Vai manter a cara
amarrada. Os olhos cheios de lágrimas e as bochechas vermelhas.
Se ela esta feliz, vai sair com o olho brilhando. Sorriso
banguela. Com cara de quem faz arte e se diverte com o momento.
Criança não faz pose de modelo. Não ajeita o cabelo. Não
pede pra bater a foto de novo porque saiu de olho fechado. Criança é natural. A
única maquiagem que quer usar é a do próprio humor.
Eu moro no Rio de Janeiro. É normal ser chamado para bater
foto para alguém na rua em algum lugar turístico. Sempre aceito. Gosto de poder
registrar a tentativa que as famílias fazem para transformar as férias em um
comercial de margarina.
As mães sempre se esforçam. Botam um sorriso estático no
rosto e brigam com os filhos entre os dentes. O filho acostumado desfaz a
careta, sabe que nunca vencerá dessa maneira. Ele espera o momento certo, e
quando a mãe olha para a câmera, sua careta vira registro fotográfico na frente
da praia de Ipanema.
Em vez de ensinarmos as crianças a fingir. Deveríamos aprender
a nos expor como elas
Crianças não disfarçam os medos. Não maquiam as tristezas. Não
escondem as inseguranças. E muito menos a felicidade.
Criança não tem medo de perguntar. Não tem medo de parecer
ignorante. Não tem medo de não agradar.
Criança não tem vergonha de chorar na rua. De gargalhar em
igreja. Nem de dizer que a comida está ruim.
Criança não finge em fotografias porque não finge na vida.
Publicado no jornal O Farroupilha no dia 01 de fevereiro
Publicado no jornal O Farroupilha no dia 01 de fevereiro
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