Meu domingo amanheceu longe do Rio Grande do Sul. Mas nem
precisei sair da cama para meu coração voltar para as terras gaúchas.
O bom dia negro das notícias de Santa Maria encheu meus
olhos de lágrimas.
Senti a compaixão de quem também sai à noite. Senti a
compaixão de quem também trabalha em boates e festas.
Senti a compaixão de quem também sonha. Senti a compaixão de
quem também ama.
Senti a compaixão de quem também faria de tudo para salvar
os outros. Senti a compaixão de quem também nunca consegue achar a saída.
Chorei.
Como não chorar? Não precisava nem conhecer ninguém para
chorar. Eram todos jovens, assim como eu. Eram todos sonhos. Eram todos
esperança. Eram todos presentes, cheios de futuro. E agora são lágrimas.
Passado.
Lembrei de todas as vezes que minha mãe me disse “Boa
festa”. Lembrei de todas as vezes que meu pai falou “Te cuida, avisa quando
chegar”. Lembrei de todas as vezes que virei os olhos para indicar que nada
iria acontecer. Lembrei de quando fiquei brabo por me ligarem quando ainda não
havia voltado.
Chorei pelos pais. Chorei pelos irmãos. Chorei pelos
namorados e namoradas. Chorei pelos amigos.
Chorei por todos que só queriam dançar.
Chorei por todos que só queriam conhecer pessoas.
Chorei por todos que só queriam celebrar a vida.
Chorei por todas as chamadas não atendidas.
Chorei por todos que não poderiam chegar com cara de sono no
almoço de domingo.
Chorei por todos que não disseram boa noite.
Chorei por todos que não pegaram um taxi. Por todos que não
ligaram para o pai ir buscá-los. Por todos que não saíram dirigindo. Por todos
que não saíram caminhando.
Chorei por todos que não voltaram para casa.
Eu sei que é coisa da vida. Todos nós sabemos o quão frágil
ela é.
Todos nós sabemos que tudo é passageiro. Que tudo é
perecível.
Mas não podemos evitar a tristeza de ver a alegria virar
lagrima. Não podemos evitar a tristeza de ver a juventude acabar antes de o sol
nascer.
Não pude evitar minhas lágrimas. Logo eu, que sou um
otimista.
Chorei junto com o mundo todo, por todos aqueles que
perderam a chance de mudar o mundo.
crônica publicada no jornal Visão do Vale em 29/01/13