Evolution of Man With Umbrella, Uri Dushy, 2005
Já descobri que o fogo queima. E que o que eu encontro no
chão não deve ser botado na boca. Aprendi que tem que olhar para os dois lados
antes de atravessar a rua. Que tênis apertado machuca o pé. E a não nadar
durante a digestão. Aprendi que cabelo molhado não combina com vento, mas que
na praia isso vira exceção.
Já aprendi a ler e escrever.
Já aprendi a caminhar, e já pisei em chiclete derretido. Já
aprendi as operações de matemática, e já recebi o troco errado. Já aprendi as
leis de Newton, e já testei as leis de Newton. Já aprendi da onde vem os bebes,
e já aprendi como se fazem bebes.
Já ganhei medalhas. Já ganhei pontos em machucados. Já
quebrei o nariz. Já quebrei o dente. Já me esqueci de um compromisso. Já tirei
nota vermelha. Já me esqueci de tirar toda roupa antes de tomar banho. Já
entrei no banho de óculos. Já descobri que nem todo relógio a prova de água é
realmente a prova de água. Já encontrei um real no chão
Já escondi um objeto quebrado. Já parti um coração.
Já quebrei um violão, e já concertei o violão. Já perdi uma
lente de contato, e já encontrei a lente de contato. Já descobri que ninguém
sabe nada sobre o amor, e já ignorei que todo mundo sabe tudo sobre o amor. Já
entendi o não escondido no sim, e já entendi o sim escondido no não. Já
formulei teorias pra acabar com os problemas do mundo, e já aprendi a dançar.
Já me apaixonei, e já me re-apaixonei. Já passei a noite em claro conversando,
e já dormi no meio de uma conversa. Já fiz amigos. Já perdi amigos. Já falei a
coisa certa na hora errada. Já falei a coisa errada na hora certa
Já ri. Já chorei. Já senti agonia. Já senti saudades. Já
amei. Já senti dor. Já senti alívio. Já senti prazer.
Hoje faz 23 anos desde que aprendi a respirar, e já aprendi
que não sei quase nada.
Publicado no jornal O Farroupilha no dia 26/10/2012