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terça-feira, 19 de junho de 2012

Felicidade



Felicidade

Felicidade é coisa simples. É abrir os olhos dia após dia, e sentir o cheiro da manhã. É trocar um bom dia com a voz rouca de sono. Felicidade é respirar.

Não precisa nem fazer oração pra Santo Antônio. É só procurar no lugar certo que ela aparece. Às vezes é envergonhada, se esconde num brilho no olhar. Às vezes é espalhafatosa, tira o ar, derruba no chão e enfeita o rosto como maquiagem.

Ser feliz é ponto de vista. É aproveitar o dia de sol. É escutar cada palavra da conversa. É tomar banho de chuva. É rir com os outros, dos outros e de si mesmo.

“Felicidade é família reunida no almoço” diz Delcyr Sachet. Uma pessoa de bem com a vida, que não esconde a idade, pelo contrário, tem orgulho de revelar que teve “77 anos de uma vida muito feliz”.

Delcyr nasceu em Vacaria, e veio morar em Farroupilha aos nove meses de idade, quando seus pais faleceram. Foi criada pelos tios, e não reclama, pelo contrário, diz que teve uma infância boa, e que seus tios foram ótimos com ela. Após sair de casa começou a trabalhar e se virar sozinha. Casou, teve filhos, e seus filhos lhe deram netos. Hoje ela é avó, e quando fala da família que tem, seus olhos brilham.

“Meu casamento foi muito bom, ele foi um ótimo marido e pai, meus filhos estão bem, e tenho netos muito queridos; ser feliz é isso”. Diz Delcyr.

Não existe receita, nem formula mágica. Não é preciso acertar a combinação dos números premiados. Não tem nada a ver com dinheiro, com quantidade, e com tamanho.
Não é sorte.

Felicidade é a felicidade dos outros. É amor.

Guardei para o fim a frase que Delcyr disse quando começamos a conversar sobre a felicidade. Simples. Direta. Verdadeira.

“A vida é muito boa”

terça-feira, 12 de junho de 2012

Paixão crônica



Essa é minha cronica publicada no dia, 8 de junho de 2012 no jornal O Farroupilha.


Paixão crônica

Dar nome aos sentimentos é quase uma consulta médica. É necessário prestar muita atenção aos sintomas para não errar no diagnóstico.

Tudo começa quando o coração dispara. Logo as palavras se atropelam. O estomago ganha vida. Os joelhos têm dificuldade de se manter fixos. E as mãos se perdem, querem tomar o lugar do cérebro, às vezes até suam para chamar ainda mais a atenção.

São os primeiros sintomas de um sentimento sério. Poucos conseguem sentir estes sinais e não desenvolver o sentimento que está surgindo.

Após as primeiras manifestações, começa a segunda fase. A perda de apetite. O olhar distante. A falta de atenção, incluindo perda de audição. A bobeira repentina. E se o paciente além de tudo, insistir em falar sempre sobre uma pessoa determinada em qualquer assunto, não tem erro. É paixão.

A paixão pode até assustar. Especialmente por chegar sempre nas horas mais inusitadas. Mas não é problema quando diagnostica aos pares. A paixão recíproca faz bem pro coração. Os apaixonados costumam ver sempre o melhor lado da vida, e sorrir das coisas mais simples.

Muitos sentimentos se juntam para desenvolver a paixão recíproca. A alegria, a felicidade, o ciúmes, e a saudades são alguns deles. Fazem dos apaixonados um só ser. As mãos se procuram. Os lábios se tocam. Passam horas falando de assuntos que mereceriam apenas alguns minutos de conversa normal. Apaixonados brigam, mas não agüentam a saudade, logo se reconciliam.

O problema é quando a paixão é singular. Pode até fazer doer o coração. Não adianta correr, nem tentar substituir por outra. Paixão só se cura com o tempo, ela precisa desaparecer aos poucos. A boa notícia é que ela vai embora geralmente sem deixar marcas.

Se todos os sintomas persistirem então não existe mais volta. Paixão crônica é amor. E quando é amor, é muito difícil curar, e se curar, ainda vão ficar seqüelas. Por que nem o tempo consegue tirar todas as manchas que o amor deixa no coração.