Sempre procuro a data que anuncia o fim da validade nos
produtos do supermercado antes de comprá-los. Desconfio dos pacotes gigantes
com preços baratos. Duvido da minha capacidade para consumi-los dentro do
prazo. É mania de consumidor, querer ter tempo para aproveitar o produto, ter
ele estocado para a ocasião correta.
Afinal, é a lei. Aquilo que tem data de fabricação precisa
de uma data de vencimento. Não depende de fiscalização. É uma obrigação da
natureza que o tempo sempre faz cumprir.
Tudo é perecível, passageiro. Uma hora as coisas precisam se
modificar e se transformar em algo novo. O leite vai coalhar. As frutas vão
apodrecer. O dia vai acabar. O medo vai passar. A paixão vai esfriar. E o
coração vai parar de bater. É a vida.
O prazo de validade é nosso limite. O chão do nosso vôo
livre. É o motivo que transforma a vida em raridade. Se ela fosse eterna, não
teria graça. A eternidade cobra certezas que a vida não precisa ter. E o prazo
de validade nos permite errar. Nos permite se apaixonar e ter o coração
partido. Nos permite queimar a língua por não conseguir esperar a comida
esfriar. Nos permite sofrer por antecedência e se emocionar com a surpresa. Nos
permite sentir. E nos permite tentar.
Viver é começar e terminar diversas vezes antes que o prazo
de validade da vida expire.
Vida não é um produto. Não existe carimbo com a data de validade
marcada na tampa Nem bula dentro da caixa para verificar as informações
importantes. Vida não entra em promoção de supermercado quando está perto do
final. E nem pode ser estocada para datas especiais.
Mas se a vida tivesse rotulo. Teria as seguintes informações
no local do prazo de validade: Consumir este produto dentro do prazo; e para
melhor conservação, manter em lugares abertos.
Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 28 de setembro de 2012