É tudo culpa do amor. É ele o óleo que mantém as engrenagens
da humanidade girando. É o chute inicial da tecnologia. É o tiro que da a
largada da corrida pela perfeição. O amor é a música que embala a festa do
mundo, e todo mundo quer achar o seu par para a dança.
Pode ser rico ou pobre. Alto ou baixo. Magro ou gordo. Heterossexual
ou homossexual. Não existe classificação. Todos querem alguém para poder contar
como foi seu dia ao chegar em casa. Alguém para dividir segredos em noites
quentes ao ar livre, e trocar sorrisos depois das piadas sem graça. Alguém para
conversar em olhares, e poder brigar quando o outro não conseguir entender.
Todos querem achar a sua metade, encher o coração até a borda.
Foi o amor que tirou o primeiro homem de cima da árvore. Não
foi a sobrevivência. Ele provavelmente estava à procura de um lugar melhor para
sua amada viver, longe da chuva, e perto do chão. A paixão é assim, quando toma
conta do corpo, faz qualquer um se entregar as loucuras. Foi o amor que dominou
o fogo. Somente um ser apaixonado é capaz de tentar conter algo tão
incontrolável.
A sociedade não deixou de ser nômade pelo comodismo. As
mulheres estavam com ciúmes. Tinham tanto medo que seus amores tivessem chance
de conhecer alguém durante as longas e demoradas viagens de caça, que decidiram
cultivar os alimentos no quintal de casa. Para poder colher o amor de seus
homens todo o dia.
Gengis Khan queria conquistar o mundo para tentar encher o
próprio coração que ninguém conseguia conquistar. Cristóvão Colombo decidiu
atravessar o mar para ver se tinha mais sorte nos romances do outro lado. Leonardo
da Vinci tentou ganhar o coração da Monalisa com sua pintura, e ela nem se quer
se achou parecida. Galileu Galilei olhava para o céu noite e dia tentando achar
a melhor combinação para seu signo. Santos Dumont queria saber se a sensação de
voar era igual a sensação de estar apaixonado. Einstein formulou a teoria da
relatividade ao perceber que o tempo flui diferente perto de quem se ama. Antonio
Meucci inventou o telefone para poder falar com sua amada dentro da própria
casa, e Thomas Edison aperfeiçoou para tentar diminuir os efeitos da saudade. Neil
Armstrong já tinha sido levado pelo amor três vezes para o mundo da lua antes
que ele pudesse deixar uma pegada por lá.
Existem teorias que defendem a guerra como a dona dos moldes
da humanidade. A grande responsável pelo desenvolvimento tecnológico e social
do mundo. Eu sou de idéia oposta. Aposto minhas fichas no amor, ou na falta
dele. Quem tem carência de amor, faz de tudo para chamar atenção. Sonha com o
poder para tentar conquistar o amor. Quer virar um ídolo, uma obrigação no
coração dos outros. A falta do amor faz o ser vivo fazer mais loucuras do que
quando ele é consumido em grandes quantidades.
Até podemos fingir que não precisamos de ninguém. Contar pra
todo mundo que é bom ser independente, e que não precisa de outra pessoa para
ser feliz no amor. E podemos até nos convencer de que isso é realmente verdade.
Mas nossa história sempre acaba escrita pela caligrafia do coração.
Não conseguimos evitar, só paramos de procurar quando
encontramos. O coração só fica satisfeito quando está cheio. Nossos planos de
vida, nossas obsessões, nossos desejos. São todas as nossas linhas traçadas
para encontrar alguém que esteja caminhando pelas mesmas regiões no mapa da
vida.
Quando encontramos alguém, e essa pessoa também nos
encontra. É uma festa, todos os clichês fazem sentido. Parece que os batimentos
cardíacos se conectam. Que é magnetismo cósmico. Destino que foi escrito nas
estrelas. Comédia romântica de Hollywood. Toda a vida se resume a um ponto, e
tudo ganha sentido.
Mas quando a festa acaba. Tudo desaba, a paixão que mantinha
o corpo no ar desaparece. As estrelas se transformam em videntes charlatões. Os
corações perdem os compassos. Os pólos se invertem e se afastam. A comédia
romântica vira drama. E a vida perde o sentido.
Se não houvesse o amor, o coração nunca cairia no chão, mas
também não levantaria. Nem antes, e nem depois de cair.
Cronica publicada no dia 27/11/12 no jornal Visão do Vale