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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Desamor


Arte: Desamor - Adela  Casado

O amor não foge discretamente. Não consegue sair de fininho pela porta dos fundos e fingir que nunca esteve ali. Amor não sabe andar nas pontas dos pés. É atrapalhado, sempre quebra os vasos e derruba panelas antes de chegar à saída. Liga a luz sem querer, e acorda quem está no quarto para avisar que está indo embora.

Não existe vitória quando o jogo do amor acabada. Todo mundo perde. Todo mundo vira culpado. Não tem como fugir da pena. Pelo menos algum tempo em carcerário na cela dos sentimentos por outra pessoa ainda será necessário para voltar à liberdade.

Quem perde o amor primeiro, sofre por antecedência, sente saudades do que não vai mais ter. Culpa o próprio coração por não amar mais o outro. Faz de tudo para que o amor não desapareça. Busca por ele na memória. Tenta encontrar traços dele nos sorrisos da outra pessoa. Tenta se reinventar.

É como ir a um ótimo restaurante. E no meio da refeição, perder a fome. Pedir para ir embora enquanto o outro ainda está saboreando a comida.

Quem descobre que o amor da outra metade fugiu. Luta contra as forças da natureza para se manter no chão. Levanta suspeita. Leva o acusado ao tribunal, e não espera a sentença do juiz. Joga tudo na mesa. Precisa encontrar a saída sem ter chego ao final.

Não existe apagador. Quando o amor vai embora. Esquece de levar as lembranças. Deixa as fotos espalhadas nos porta-retratos. As palavras escritas nos cartões. Os perfumes fixados nas roupas. Os passeios de domingo na memória. E a intimidade marcada numa mancha invisível em cada lugar que ela já tocou.

Todo mundo sofre. Quem precisa esquecer, e quem não quer esquecer. Quem se preocupa e quem finge que não se preocupa. Quem é vilão, e quem é mocinho.

Perder o amor é pior do que perder carteira de identidade. A burocracia para conseguir um novo é complicada e lenta. Precisa de tempo. Paciência. E lágrimas. Mas assim como a chance de conseguir um foto 3x4 melhor que a anterior, é uma boa chance para sentir a alegria da paixão novamente.

Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 16/11/12

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