Sempre fui ansioso. É da minha natureza. Lembro que não
conseguia dormir direito na noite anterior ao domingo de páscoa. Era meu
feriado favorito.
Não é que eu seja fanático pelos chocolates. Eles sempre
duravam meses em minhas mãos.
Eu gostava mesmo era da aventura. Acordava meu irmão e o
convencia a levantar para acharmos os chocolates.
Não acreditava em Papai Noel, mas jurava que o coelhinho da
páscoa era de carne e osso. Ele invadia a minha casa a noite, comia a cenoura,
tomava o Nescau, e deixava bilhetes e pegadas por toda a casa.
Na época eu não imaginava que as pegadas eram de farinha e
feitas pelas mãos dos meus pais. Não fazia nem idéia de que a caligrafia do
coelho era exatamente igual à caligrafia do meu pai.
Até achava estranho que o coelhinho não fazia o mesmo pelas
outras casas. Que somente o meu lar era o escolhido para virar uma caça ao
tesouro, com pistas espalhadas dando dicas da localização de todos os
chocolates que ele havia esquecido pelas gavetas e armários.
Com o tempo eu perdi a ingenuidade de criança, e descobri
tudo. Mas confesso que a brincadeira não perdeu a magia. Ainda aconteceu por
algum tempo. Sem as pegadas no carpete, é claro, já que elas davam trabalho na
faxina. Mas com pistas cada vez mais complexas e divertidas.
A Páscoa não era a ressurreição de Jesus. Não era o
chocolate. Não era o coelho. A Páscoa era o amor e a dedicação dos meus pais
por mim e pelo meu irmão. Eram os detalhes. O cuidado. Tudo que eles faziam
para cativar nossa imaginação e a nossa curiosidade.
Essas histórias se tornaram marcas de pura felicidade em
minha vida. E só foi necessário o amor, e o tempo de meus pais para que
acontecessem. Nunca precisei ganhar um chocolate importado ou um ovo gigante
com um brinquedo no meio para poder sorrir. Só precisei de amor.
Agradeço aos meus pais por me ensinarem que as melhores
partes da vida são embrulhadas em sentimentos.
Publicada no jornal O Farroupilha em 29 de março de 2013
Realmente, "as melores partes da vida são embrulhadas em sentimentos".
ResponderExcluir