Maneco Araújo - Favela da Rocinha
Não existem barreiras para quem sabe gingar.
Quem tem molejo nos pés não perde o charme nem quando
tropeça. Transforma o esbarro em passo de dança. Faz do choro um riso. E do
riso uma alegria.
As paredes descascadas e sujas da cidade são molduras aos
olhos de quem tem o suingue nas mãos. Os muros de concreto, os pilares dos
viadutos, qualquer coisa que pareça transformar a vida em uma caixa de tijolos
ganha cores e vida no grafite dos dançarinos da vida moderna.
Se o mundo canta, damos um jeito de inventar uma dança. É a
resposta da vida.
Tente tocar uma música para alguém. Se essa pessoa não mexer
nem ao menos um dedo da mão no ritmo. É porque toda a concentração dela esta
sendo dedicada a ignorar a própria vontade. Dançar é involuntário, é o nosso
corpo tentando traduzir o coração.
Se os preços no mercado aumentam, rebolamos. Refazemos as
contas, chamamos os números para a pista, e giramos com eles de um lado para o
outro. Treinamos os passos para que fiquem confortáveis novamente.
O problema é quando a música muda antes que todos os
bailarinos aprendam a coreografia. Aí a dança é diferente. Vira improviso. Vira
casa no meio do morro. Vira conjugado e sobradinho. Vira esgoto a céu aberto e
lixo espalhado na esquina. Vira gato de luz no poste e ladeira no quintal de
casa.
Se dançar é involuntário. Talvez o problema esteja na banda.
Afinal, ninguém consegue dançar essa música sem ritmo que insistem em tocar. Essa
música que entre um compasso e outro, os maestros acrescentam um tempo a mais
para receber a propina dos músicos.
Ainda bem que o público é bom de gingado. Consegue dar um
jeito de se manter na pista de dança. O que me surpreende na verdade, é que
quem assiste ao show sentado no mezanino, reclama mais da dança confusa do
povo, do que da música mal tocada da banda.
Crônica publicada no jornal O Farroupilha em 9 de novembro de 2012
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