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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Samba


 Maneco Araújo - Favela da Rocinha

Não existem barreiras para quem sabe gingar.

Quem tem molejo nos pés não perde o charme nem quando tropeça. Transforma o esbarro em passo de dança. Faz do choro um riso. E do riso uma alegria.

As paredes descascadas e sujas da cidade são molduras aos olhos de quem tem o suingue nas mãos. Os muros de concreto, os pilares dos viadutos, qualquer coisa que pareça transformar a vida em uma caixa de tijolos ganha cores e vida no grafite dos dançarinos da vida moderna.

Se o mundo canta, damos um jeito de inventar uma dança. É a resposta da vida.

Tente tocar uma música para alguém. Se essa pessoa não mexer nem ao menos um dedo da mão no ritmo. É porque toda a concentração dela esta sendo dedicada a ignorar a própria vontade. Dançar é involuntário, é o nosso corpo tentando traduzir o coração.

Se os preços no mercado aumentam, rebolamos. Refazemos as contas, chamamos os números para a pista, e giramos com eles de um lado para o outro. Treinamos os passos para que fiquem confortáveis novamente.

O problema é quando a música muda antes que todos os bailarinos aprendam a coreografia. Aí a dança é diferente. Vira improviso. Vira casa no meio do morro. Vira conjugado e sobradinho. Vira esgoto a céu aberto e lixo espalhado na esquina. Vira gato de luz no poste e ladeira no quintal de casa.

Se dançar é involuntário. Talvez o problema esteja na banda. Afinal, ninguém consegue dançar essa música sem ritmo que insistem em tocar. Essa música que entre um compasso e outro, os maestros acrescentam um tempo a mais para receber a propina dos músicos.

Ainda bem que o público é bom de gingado. Consegue dar um jeito de se manter na pista de dança. O que me surpreende na verdade, é que quem assiste ao show sentado no mezanino, reclama mais da dança confusa do povo, do que da música mal tocada da banda.

Crônica publicada no jornal O Farroupilha em 9 de novembro de 2012

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