Untitled II - Fabian Perez
Sempre me demoro nos títulos. Acho muito complicado resumir
as idéias em tão poucas palavras. É como etiquetar um produto. Estragar a
surpresa. Botar um ponto cardeal no texto para o leitor tomar um rumo para a
própria interpretação.
Mas a verdade é que nos tornamos relaxados, preguiçosos.
Viciados na melhor publicidade. Acostumados a comprar em letras garrafais. Nos
tornamos consumidores da foto do fast food, e não da receita. Procuramos
primeiro o título para julgar se o produto vale à pena ou não.
Botamos títulos até mesmo nas pessoas. Transformamos eles
nas nossas identidades. São os crachás que nos separam nas diferentes estantes
do mundo. Catalogados em sessões de profissão, nacionalidade, classe social,
religião, raça e estilo.
Essa insistência no rótulo não vem do berço. Ela cresce
junto com os aniversários e vai engrossando ao mesmo tempo que a voz. Nascemos
livres, mas o mundo sempre pede o nome das nossas ideias.
Os professores nos ajudam a ficar assim. Começam a matéria
nova pelo nome, e ainda pedem para sublinhá-lo no topo da explicação. Na
redação, eles descontam nota dos alunos que esquecem do título. Quando é de vestibular,
o aluno pode até ficar de fora do listão por causa disso.
Se fosse eu, daria ponto extra. Quem esquece o título tem
sede de saber mais. É curioso. Não aprendeu a pintar dentro das linhas. Não faz
cara feia antes de provar, quer saber os ingredientes.
Quem esquece o título não julga pela cara, cor, classe
social, aparência, estilo, ou profissão. Não compra o amor em outdoors, nem se
relaciona entre grifes.
Só quem esquece o título tem o coração aberto para amar por
fora dos limites.
Crônica publicada no jornal O Farroupilha no dia 19/10/2012
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