Arte: Leonardo da Vinci
Eu gosto de quem troca os pés pelas mãos. De quem gagueja na
hora de se apresentar. De quem treme quando está ansioso. De quem não consegue
ficar quieto durante o nervosismo. Gosto de quem se arrepia.
Eu gosto de quem chora no meio da rua. De quem discute no
meio da praça. De quem não consegue evitar o abraço mesmo quando quer manter
uma briga. De quem pede desculpas primeiro, e não espera a certeza do perdão.
Gosto de quem se machuca.
Eu gosto de quem fala alto quando está brabo. De quem se encolhe
quando está com medo. De quem tem alegria misturada com lágrimas nos olhos. De
quem tem ataque de riso, e procura um espaço entre as risadas para respirar. Gosto
de quem se entrega.
Eu gosto de quem tropeça. De quem troca as palavras. De quem
confunde as placas dos banheiros. De quem se esquece das vírgulas, e exagera
nas reticências. Gosto de quem se traduz.
Eu gosto de quem puxa no colo e abraça. De quem transforma o
oi em um abraço, e faz do tchau uma desculpa para o beijo. De quem não sabe o
que fazer com as mãos quando não estão entrelaçadas. Gosto de quem encosta.
Eu gosto de quem se suja. De quem amassa as roupas. De quem
afrouxa a gravata e se esquece de botar a camisa dentro da calça. De quem tira
o sapato na primeira oportunidade e não combina meias. Gosto de quem se atira
Eu gosto de quem canta sem saber a letra. De quem desafina
de coração. De quem dança sem coreografia. De quem pisa nos pés do par durante
a valsa. De quem joga os braços pro céu e grita. Gosto de quem se emociona.
Eu gosto de quem deixa o coração falar mais alto. De quem é
de verdade. De quem calcula os números na cabeça e a vida no peito. De quem
esquece o guarda-chuva no metro e aproveita para tomar um banho. Gosto de quem
vive.
Eu gosto de quem erra.
Crônica publicada no jornal O Farroupilha em 04/01/13
Nenhum comentário:
Postar um comentário