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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Só Humanos


Arte: Leonardo da Vinci

Eu gosto de quem troca os pés pelas mãos. De quem gagueja na hora de se apresentar. De quem treme quando está ansioso. De quem não consegue ficar quieto durante o nervosismo. Gosto de quem se arrepia.

Eu gosto de quem chora no meio da rua. De quem discute no meio da praça. De quem não consegue evitar o abraço mesmo quando quer manter uma briga. De quem pede desculpas primeiro, e não espera a certeza do perdão. Gosto de quem se machuca.

Eu gosto de quem fala alto quando está brabo. De quem se encolhe quando está com medo. De quem tem alegria misturada com lágrimas nos olhos. De quem tem ataque de riso, e procura um espaço entre as risadas para respirar. Gosto de quem se entrega.

Eu gosto de quem tropeça. De quem troca as palavras. De quem confunde as placas dos banheiros. De quem se esquece das vírgulas, e exagera nas reticências. Gosto de quem se traduz.

Eu gosto de quem puxa no colo e abraça. De quem transforma o oi em um abraço, e faz do tchau uma desculpa para o beijo. De quem não sabe o que fazer com as mãos quando não estão entrelaçadas. Gosto de quem encosta.

Eu gosto de quem se suja. De quem amassa as roupas. De quem afrouxa a gravata e se esquece de botar a camisa dentro da calça. De quem tira o sapato na primeira oportunidade e não combina meias. Gosto de quem se atira

Eu gosto de quem canta sem saber a letra. De quem desafina de coração. De quem dança sem coreografia. De quem pisa nos pés do par durante a valsa. De quem joga os braços pro céu e grita. Gosto de quem se emociona.

Eu gosto de quem deixa o coração falar mais alto. De quem é de verdade. De quem calcula os números na cabeça e a vida no peito. De quem esquece o guarda-chuva no metro e aproveita para tomar um banho. Gosto de quem vive.

Eu gosto de quem erra. 

Crônica publicada no jornal O Farroupilha em 04/01/13

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