arte: Coca Cola, 1937 advertisement
Foi meu irmão quem me falou a verdade sobre o Papai Noel. Eu
era pequeno, mas assim que ele descobriu, me contou. Fez bem, afinal, a mentira
era uma das categorias que desqualificavam a criança para o presente de natal.
Eu já sabia que alguma coisa nessa história toda não
cheirava bem. O bom velhinho estava em todo lugar. Nos comerciais, nos
shoppings, em um carro na rua distribuindo balas, nas calçadas empurrando
panfletos, e até mesmo escalando prédios diante de multidões. Quase um ex BBB
tentando manter a fama.
Isso não é maneira de um cara como o Papai Noel se
comportar. Ele toma coca-cola e pisca o olho para nos convidar. Anuncia a
Tele-Sena e diz que é fácil ganhar. Vai à concessionária da Chevrolet e
comemora a compra parcelada em 46 vezes com juros. Aposto que só não faz comercial
de cigarros porque eles já foram proibidos.
Pobre do velhinho. Nasceu como uma figura gentil. E acabou
virando a falta de criatividade e caráter das publicidades. Virou um grande
empresário. Já fechou a própria fábrica e demitiu todos os duendes. Agora ele
refina petróleo, terceiriza a construção dos presentes nas mãos das crianças da
China, e ganha mais de 300% de lucro.
Talvez ele tenha ficado caduco. Quando começou com esse
negócio de dar presentes, ele não era assim. Era coisa do coração. Queria escutar
os sonhos das crianças. Alimentar os sorrisos. O cartão era mais importante que
o presente. E a qualidade do presente não se media pelo valor. Era medida na
conexão entre as pessoas.
Não culpem as crianças por isso. Todas as crianças que eu
conheço gostam mais de brincar do que de brinquedos. Quem botou o preço nos
presentes foi o adulto. Foi ele que etiquetou as mercadorias. E é ele quem dá
valor aos nomes. Afinal, é o adulto que ensina a criança a brincar. Se quiserem
culpar alguém pelo roubo do natal, culpem os adultos.
Eu sugiro algo diferente para a noite dessa véspera de natal.
Escolha as pessoas que você mais ama, e faça o presente. De algo pessoal.
Escreva uma carta. Faça um cartão. Abrace. De um beijo. Não de apenas o
brinquedo. Brinque junto. Desligue a televisão, os especiais não valem à pena. Converse,
não fofoque. Ensine que sonhos não têm etiqueta. E que para ser piloto, só precisa
de cadeira e imaginação. Brinde ao calor da confraternização, não ao frio dos
objetos. Se conecte. Ame.
Publica em 21/12/12 no jornal O Farroupilha
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