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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Feliz Natal em Néon


arte: Coca Cola, 1937 advertisement 

Foi meu irmão quem me falou a verdade sobre o Papai Noel. Eu era pequeno, mas assim que ele descobriu, me contou. Fez bem, afinal, a mentira era uma das categorias que desqualificavam a criança para o presente de natal.

Eu já sabia que alguma coisa nessa história toda não cheirava bem. O bom velhinho estava em todo lugar. Nos comerciais, nos shoppings, em um carro na rua distribuindo balas, nas calçadas empurrando panfletos, e até mesmo escalando prédios diante de multidões. Quase um ex BBB tentando manter a fama.

Isso não é maneira de um cara como o Papai Noel se comportar. Ele toma coca-cola e pisca o olho para nos convidar. Anuncia a Tele-Sena e diz que é fácil ganhar. Vai à concessionária da Chevrolet e comemora a compra parcelada em 46 vezes com juros. Aposto que só não faz comercial de cigarros porque eles já foram proibidos.

Pobre do velhinho. Nasceu como uma figura gentil. E acabou virando a falta de criatividade e caráter das publicidades. Virou um grande empresário. Já fechou a própria fábrica e demitiu todos os duendes. Agora ele refina petróleo, terceiriza a construção dos presentes nas mãos das crianças da China, e ganha mais de 300% de lucro.

Talvez ele tenha ficado caduco. Quando começou com esse negócio de dar presentes, ele não era assim. Era coisa do coração. Queria escutar os sonhos das crianças. Alimentar os sorrisos. O cartão era mais importante que o presente. E a qualidade do presente não se media pelo valor. Era medida na conexão entre as pessoas.

Não culpem as crianças por isso. Todas as crianças que eu conheço gostam mais de brincar do que de brinquedos. Quem botou o preço nos presentes foi o adulto. Foi ele que etiquetou as mercadorias. E é ele quem dá valor aos nomes. Afinal, é o adulto que ensina a criança a brincar. Se quiserem culpar alguém pelo roubo do natal, culpem os adultos.

Eu sugiro algo diferente para a noite dessa véspera de natal. Escolha as pessoas que você mais ama, e faça o presente. De algo pessoal. Escreva uma carta. Faça um cartão. Abrace. De um beijo. Não de apenas o brinquedo. Brinque junto. Desligue a televisão, os especiais não valem à pena. Converse, não fofoque. Ensine que sonhos não têm etiqueta. E que para ser piloto, só precisa de cadeira e imaginação. Brinde ao calor da confraternização, não ao frio dos objetos. Se conecte. Ame.

Publica em 21/12/12 no jornal O Farroupilha

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