Arte: Four Seasons - Luiza Vizoli
Então é natal. Não tem mais desculpa. As lojas já deixaram
de estar antecipadas com as suas decorações. A televisão já anuncia com data
marcada os especiais de final de ano. As casas já brilham e piscam a noite
toda. E o cinema já está dominado pelos filmes cheios de neve. Não tem mais
como empurrar, o papai Noel já foi chamado.
O último mês do ano é quase um julgamento da inquisição.
Entramos em debate com nossa consciência. Fazemos listas para medir nossa
competência. Somamos os segundos do ano para verificar se eles foram bem
utilizados durante a nossa vida.
Ninguém escapa do julgamento. Quando somos crianças, já nos
avisam: O velinho sabe de tudo, quem não foi bom durante o ano, não ganha
presente.
Dezembro é uma rocha nas nossas cabeças. Nos tornamos
filósofos da nossa história. Nosso mundo vira uma única pergunta com o objetivo
de cutucar nossa insatisfação.
Onde foram parar os últimos onze meses?
Os meus não desapareçam. Estão aqui, atrás dos olhos.
Embaixo da pele. Dentro da minha cabeça e da minha barriga. Nas linhas das mãos,
e nos traços do rosto.
Nos últimos onze meses eu me somei junto com todas as
palavras que escrevi e com todas as conversas que tive. Junto com os treze
livros que li. Com toda poesia que vivi.
Com os braços que me envolveram, e com as pessoas que deixei meus braços envolverem.
Ensinei e aprendi. Ajudei, e fui ajudado. Me mudei e mudei a
mim mesmo. Vi diversos pores-do-sol. Tomei vários banhos de chuva (alguns
intencionais). Caminhei muitos quilômetros. Cantei. Dancei. Tropecei. Bati algumas
vezes o dedinho do pé. Chutei calçada. Queimei a língua. Quase me afoguei (duas
vezes). Não comi carne. Comemorei os pequenos sucessos. Me revoltei nos
pequenos fracassos. Chorei. Dei risada. Corri atrás dos meus sonhos. E respirei.
Não existe aparelho capaz de medir o sucesso de um ano. Nada
pode entregar dados exatos, com provas numéricas. Talvez a única maneira de se
medir o sucesso da vida, é a felicidade.
Felicidade nunca mente. Entrega o resultado positivo dos
últimos 11 meses sempre com um grande sorriso.
Publicado no jornal O Farroupilha em 7 de dezembro de 2012
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