Páginas

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

De pai para filho


Me lembro de contar os segundos esperando que meu pai chegasse do trabalho. O freio do carro era a sirene de aviso. O tiro que dava a largada para a corrida do oi.

Nem sabia qual era o trabalho dele quando eu era criança. Achava que meu pai era o goleiro que não foi convocado para seleção. O artilheiro que abandonou a carreira depois de sofrer uma contusão. Afinal, eu nunca conseguia ganhar dele no futebol. Só quando ele me deixava, ou no vídeo game, ai eu era campeão.

A melhor hora do dia era a da novela das 21:00h. Esperava ansiosamente o momento em que o jornal acabava para ver meu pai desligar a televisão, e escolher um CD para ouvirmos música. Era meu ritual favorito. A trilha sonora da minha infância

O sofá era meu colchão, lugar de descansar os olhos. O barulho da família e o calor humano da sala eram meus soníferos. Mas sempre acordei na cama, e com os dentes escovados. Meu pai era meu dentista.

Pai é o professor da vida. Ensina o mundo para os filhos e os filhos para o mundo.

Meu pai me ensinou a ler livros e a jogar xadrez. Me levou para o cinema e para a praia. Me deu parabéns e me xingou. Me explicou as matérias da escola e tentou responder a todos meus cansativos e persistentes por quês.

É o pai que nos ensina a andar de bicicleta. Quando vê que temos equilíbrio, nos empurra o suficiente para que possamos ir sozinhos. E se uma hora a gente cai, ele sempre manda subir de novo e pedalar.

Pai é segurança. É o nosso chão firme, e a mão que nos ajuda a levantar.

Meu pai me ensinou a viver a vida sem rodinhas.


Cronica publicada no jornal O Farroupilha, no dia 10/08/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário