Me lembro de contar os segundos esperando que meu pai
chegasse do trabalho. O freio do carro era a sirene de aviso. O tiro que dava a
largada para a corrida do oi.
Nem sabia qual era o trabalho dele quando eu era criança.
Achava que meu pai era o goleiro que não foi convocado para seleção. O
artilheiro que abandonou a carreira depois de sofrer uma contusão. Afinal, eu
nunca conseguia ganhar dele no futebol. Só quando ele me deixava, ou no vídeo
game, ai eu era campeão.
A melhor hora do dia era a da novela das 21:00h. Esperava ansiosamente
o momento em que o jornal acabava para ver meu pai desligar a televisão, e
escolher um CD para ouvirmos música. Era meu ritual favorito. A trilha sonora
da minha infância
O sofá era meu colchão, lugar de descansar os olhos. O
barulho da família e o calor humano da sala eram meus soníferos. Mas sempre
acordei na cama, e com os dentes escovados. Meu pai era meu dentista.
Pai é o professor da vida. Ensina o mundo para os filhos e
os filhos para o mundo.
Meu pai me ensinou a ler livros e a jogar xadrez. Me levou
para o cinema e para a praia. Me deu parabéns e me xingou. Me explicou as
matérias da escola e tentou responder a todos meus cansativos e persistentes
por quês.
É o pai que nos ensina a andar de bicicleta. Quando vê que
temos equilíbrio, nos empurra o suficiente para que possamos ir sozinhos. E se uma
hora a gente cai, ele sempre manda subir de novo e pedalar.
Pai é segurança. É o nosso chão firme, e a mão que nos ajuda
a levantar.
Meu pai me ensinou a viver a vida sem rodinhas.
Cronica publicada no jornal O Farroupilha, no dia 10/08/2012
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